Quando você vê esta foto, o que te passa pela cabeça?
E quando vê esta abaixo? Pensamentos diferentes aparecem?
Nas duas fotos, estou com meu irmão mais novo. Em ambas, existe demonstração de carinho, existe contato físico entre pessoas do mesmo sexo, contudo, estas duas fotos podem ter conotações diferentes vistas por desconhecidos.
Temos algumas histórias engraçadas (para não dizer trágicas), por conta desta relação.
Na segunda foto por exemplo, David havia ido junto com a sua esposa e a minha, me buscar no hospital, após mais uma das minhas diversas cirurgias.
Decidimos parar em um restaurante e sentamos de frente às esposas e com as costas para a parede (coisa de "puliça"), e ficamos lado a lado. Eu estava extremamente carinhoso com meus familiares, mais que o normal, e encostei a cabeça no ombro do meu irmão, minha esposa achou bonitinho e tirou a foto.
Percebemos então que um grupo de jovens em uma mesa próxima estava observando, rindo e criticando em tom preconceituoso, censurando o "casal"...
Rimos no início, depois nos incomodamos, pois eles simplesmente esqueceram de curtir o momento deles, para se mostrarem chocados com a cena.
Mesmo que fossemos um casal, isso mudaria a vida de qualquer uma daquelas pessoas?
A nossa conta naquele restaurante seria paga por eles?
Passamos por coisa parecida quando alugamos um apartamento, por eu ser negro (temos muitas histórias por conta disso também), ninguém imagina que somos irmãos, logo, somos um "casal"...
E daí que fossemos?
No dia 24 de junho, oito homens (ou monstros?) agrediram à pedradas, dois irmãos gêmeos de 22 anos, que voltavam de uma festa junina, em Camaçari (BA).
O motivo:
Os irmãos voltavam para casa abraçados e entenderam que eram homossexuais!
Um dos irmãos (José Leonardo da Silva) não resistiu aos ferimentos e morreu no local, o outro (José Leandro da Silva) foi socorrido com afundamento na face, mas não corre risco de morte.
Não parei de imaginar, eu e meu irmão, MEU MELHOR AMIGO, sendo vitimas de um bando de covardes, apenas por sermos confundidos como um casal homossexual.
Quem deu o direito a estes covardes de tirar a vida de qualquer pessoa por sua opção sexual?
Este mal enraizado na nossa cultura precisa ser descartado o quanto antes, mesmo aqueles que não apedrejam, que não fazem comentários jocosos, que não apontam, enfim, que não demonstram publicamente, precisam se despir dos preconceitos.
O respeito à pessoa, deve ser pleno, irrestrito, totalitário, senão, não é respeito!
Minha primeira esposa era sete anos mais velha, e os olhares se voltavam para nós por onde passávamos.
Na maioria das vezes em que estou em grupo em algum estabelecimento, as pessoas mais claras são atendidas primeiro.
Muitos colegas policiais abordam com mais cautela pessoas negras.
Já me senti um fantasma, quando dois vendedores passaram praticamente ATRAVÉS de mim, para atender meu irmão no Pelourinho (é meu povo, no Pelourinho), e quando uma terceira finalmente me deu atenção, ainda foi avisada pelo outro:
- "Você é idiota? Este aí é o guia, o gringo é o daqui!"
Coisa foi quando uma senhora insinuou conversando alto com a colega, que eu não tinha vergonha por estar desfilando no shopping de mãos dadas com uma "menininha".
A "menininha" em questão é a minha filha, à época com 15 anos, hoje tem 17, e todo dia é a mesma coisa...
Muita gente faz passeata pela paz, prega a comunhão, ora ajoelhadinho, e faz doação para desconhecidos, mas lá no fundo, ainda é grande o preconceito em nosso país.
O preconceito é uma grande estupidez, pois o meu preconceito, pode ser apenas o reflexo do preconceito do outro, já que sou diferente dele. Ou não...
Em tempo: Hoje, 28 de junho, é comemorado o Dia Mundial do Orgulho LGBT.