quinta-feira, 28 de junho de 2012

Demonstração de afeto, mata!

Quando você vê esta foto, o que te passa pela cabeça?


E quando vê esta abaixo? Pensamentos diferentes aparecem?


Nas duas fotos, estou com meu irmão mais novo. Em ambas, existe demonstração de carinho, existe contato físico entre pessoas do mesmo sexo, contudo, estas duas fotos  podem ter conotações diferentes vistas por desconhecidos.

Temos algumas histórias engraçadas (para não dizer trágicas), por conta desta relação.

Na segunda foto por exemplo, David havia ido junto com a sua esposa e a minha, me buscar no hospital, após mais uma das minhas diversas cirurgias.
Decidimos parar em um restaurante e sentamos de frente às esposas e com as costas para a parede (coisa de "puliça"), e ficamos lado a lado. Eu estava extremamente carinhoso com meus familiares, mais que o normal, e encostei a cabeça no ombro do meu irmão, minha esposa achou bonitinho e tirou a foto.

Percebemos então que um grupo de jovens em uma mesa próxima estava observando, rindo e criticando em tom preconceituoso, censurando o "casal"...

Rimos no início, depois nos incomodamos, pois eles simplesmente esqueceram de curtir o momento deles, para se mostrarem chocados com a cena.

Mesmo que fossemos um casal, isso mudaria a vida de qualquer uma daquelas pessoas?

A nossa conta naquele restaurante seria paga por eles?

Passamos por coisa parecida quando alugamos um apartamento, por eu ser negro (temos muitas histórias por conta disso também), ninguém imagina que somos irmãos, logo, somos um "casal"...

E daí que fossemos?

No dia 24 de junho, oito homens (ou monstros?) agrediram à pedradas, dois irmãos gêmeos de 22 anos, que voltavam de uma festa junina, em Camaçari (BA).
O motivo:
Os irmãos voltavam para casa abraçados e entenderam que eram homossexuais!

Um dos irmãos (José Leonardo da Silva) não resistiu aos ferimentos e morreu no local, o outro (José Leandro da Silva) foi socorrido com afundamento na face, mas não corre risco de morte.

Não parei de imaginar, eu e meu irmão, MEU MELHOR AMIGO, sendo vitimas de um bando de covardes, apenas por sermos confundidos como um casal homossexual. 

Quem deu o direito a estes covardes de tirar a vida de qualquer pessoa por sua opção sexual?



Este mal enraizado na nossa cultura precisa ser descartado o quanto antes, mesmo aqueles que não apedrejam, que não fazem comentários jocosos, que não apontam, enfim, que não demonstram publicamente, precisam se despir dos preconceitos.

O respeito à pessoa, deve ser pleno, irrestrito, totalitário, senão, não é respeito!


Minha primeira esposa era sete anos mais velha, e os olhares se voltavam para nós por onde passávamos.
Na maioria das vezes em que estou em grupo em algum estabelecimento, as pessoas mais claras são atendidas primeiro.
Muitos colegas policiais abordam com mais cautela pessoas negras.
Já me senti um fantasma, quando dois vendedores passaram praticamente ATRAVÉS  de mim, para atender meu irmão no Pelourinho (é meu povo, no Pelourinho), e quando uma terceira finalmente me deu atenção, ainda foi avisada pelo outro:
- "Você é idiota? Este aí é o guia, o gringo é o daqui!"

Coisa foi quando uma senhora insinuou conversando alto com a colega, que eu não tinha vergonha por estar desfilando no shopping de mãos dadas com uma "menininha".
A "menininha" em questão é a minha filha, à época com 15 anos, hoje tem 17, e todo dia é a mesma coisa...

Muita gente faz passeata pela paz, prega a comunhão, ora ajoelhadinho, e faz doação para desconhecidos, mas lá no fundo, ainda é grande o preconceito em nosso país.

O preconceito é uma grande estupidez, pois o meu preconceito, pode ser apenas o reflexo do preconceito do outro, já que sou diferente dele. Ou não...

Em tempo: Hoje, 28 de junho, é comemorado o Dia Mundial do Orgulho LGBT.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A greve dos professores não interfere na busca do conhecimento


A greve dos professores da rede estadual vem demonstrando aos baianos que a manipulação da mídia pelo governo está chegando ao seu limite. Percebemos isso quando redes de comunicação que são "aliadas" do sistema começam a tomar partido pelos justos, pelas verdadeiras vítimas.

Não tentam mais pôr a culpa nos docentes, tratá-los como intransigentes, apesar de não acusar (ainda) o verdadeiro causador do caos que se tornou a Bahia.

Os pais e alunos estão de parabéns!

Apoiaram os professores, e entenderam que só assim poderão ter educação de qualidade para seus filhos. 

Não adianta forçar a volta dos professores na base da força, da ameaça, da criminalização de um movimento LEGÍTIMO. 
A sociedade não vai apoiar um governo que cortou o salário de profissionais que estão lutando pelo CUMPRIMENTO de um acordo.

Assim como os policiais militares que pararam suas atividades no início do ano para que se cumprisse uma lei aprovada há 15 anos, os professores lutam por algo que estaria garantido, se o governo mantivesse a palavra.

No início, a mídia jogava a população contra os professores, falando apenas dos milhões de alunos sem aula,   o prejuízo para o ano letivo, do vestibular e do ENEM que não teriam alunos da rede estadual bem classificados.

Não se pode dizer que não teremos problemas, mas se pensarmos assim, não se conquista nada, e é preferível um ano letivo empurrado férias adentro, que milhares de profissionais desmotivados para o resto das suas vidas, vitimando nossos jovens pela falta de comprometimento.

Educação, cultura e conhecimento não são encontrados apenas em salas de aula, basta ter força de vontade que se consegue dar a volta por cima nesta paralisação, e não ficar para trás em vestibulares e ENEM.

Vou reproduzir aqui, uma atualização de status do Facebook de uma professora da rede estadual, que demonstra que podemos acreditar que nem tudo está perdido:

"Não, eu não ganho R$ 3.460,00!

Filhos de professores da escola pública, também estudam na escola pública.

Enfrentei uma greve de três meses quando era ensino médio, e sim, consegui passar no vestibular.
E sim, corria atrás da minha defasagem, DENTRO DE CASA.
Não tinha vídeo game e bicicleta, mas tinha livros...

E aqui estou..."

Tomem o depoimento desta jovem professora como um exemplo positivo, esta profissional não pode ser acusada de estar prejudicando os alunos, justamente porque sua carne foi cortada. 
DUAS VEZES!

Quando aluna, poderia ter se postado frente à televisão e deixar o tempo reger seu futuro;
como docente poderia baixar a cabeça, e humilhada, fingir que os alunos dependem apenas dela para construir seu futuro.




O STF considerou "INCABÍVEL" o recurso do governo da Bahia, que tentava suspender a liminar que determinava o pagamento dos salários dos professores.

Incabível é um governo que tenta a todo custo manter sua população ignorante e mal informada, justamente para parecer "o mocinho" da história.

Os professores não são profissionais que trabalham com armas de fogo para que legitimem cerco das forças armadas, não adianta mandar meia dúzia de marginais encapuzados atacar ônibus e induzir a sociedade a acreditar que foram os grevistas, não adianta divulgar um salário acima do real, pois todos sabem que os professores não são valorizados.

Os professores, como verdadeiros mestres que são, nos ensinaram a entender o momento politico do nosso estado, fizeram com que a sociedade percebesse que profissionais que fazem greve, na Bahia de todas as greves, não fazem por gostar de paralisação, fazem por não suportar mais tanto descaso, tanta falta de respeito, tanta desvalorização.

Nossos mestres nos ensinaram muita coisa em dois meses, e  ELES ESTÃO EM GREVE!  

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Não existe trabalho insignificante



"Assim como não existem pessoas pequenas na vida, sem importância, também não existe trabalho insignificante." (Elena Bonner)

Vi esta foto sendo compartilhada pelo Facebook, e não tive como me manter impassível à cena, mas no mesmo momento lembrei-me de um caso em que um psicólogo se passou por gari durante oito anos, e não foi reconhecido por ninguém, pelo simples fato de que nenhum dos seus conhecidos olhavam para os garis...

O psicólogo social Fernando Braga da Costa, vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari para concluir sua tese de mestrado pela USP, mesmo local por onde perambulou varrendo ruas e se sentiu como um "ser invisível". 


Achei muito linda a ideia do pai não demonstrar vergonha e sentir orgulho pela sua profissão, achei muito interessante as pessoas compartilharem a foto, mas quantos de nós percebemos os garis, vigilantes, ascensoristas, vendedores de cafezinho (estes eu percebo longe!) ou moradores de rua?

Estes profissionais estão tão acostumados a não serem notados, que quando a situação foge à regra, se assustam. Vivenciei isso quando desejei um simples "bom serviço, minha amiga" à atendente do guichê d pedágio da rodovia Ba-093, após ela me desejar o "boa viagem", automático e padrão ao entregar o troco.

O sorriso da moça foi um misto de espanto e felicidade, e eu fiquei ruborizado, pois não imaginava que uma frase tão simplória, que repetimos à exaustão aos nossos colegas de trabalho, fizesse tanta diferença quando direcionada a outra categoria profissional.

Voltando à foto da postagem, não seria extremamente valoroso da parte de quem compartilhou a imagem pelas redes sociais, desejar um bom dia quando olhassem e percebessem a presença dos nossos profissionais "invisíveis"?

"Por mais humilde que seja, um bom trabalho inspira uma sensação de vitória" (Jack Kemp)